Empresa Suzano Papel e Celulose é acusada de tomar terra de idoso analfabeto com falsa autorização.

 

Em um cenário que beira o inacreditável, a história de um homem humilde, o Senhor Bernardo Onorino Batista, de 85 anos, expõe uma das faces mais sombrias e, infelizmente, rotineiras do poderio corporativo sobre os pequenos agricultores do sul da Bahia.

 

O caso que envolve a gigante multinacional Suzano – adquirente das operações da antiga Aracruz Celulose – levanta sérias preocupações sobre práticas de terras que alguns poderiam chamar de invasão legalizada.

 

 

A Armadilha e o Desespero:

 

O Senhor Bernardo, um senhor analfabeto que nunca teve a chance de receber uma educação formal, possui uma história de vida que se confunde com a terra que herdou de seus ancestrais há mais de cem anos. A Fazenda Monte Cristo, com seus preciosos 245 hectares, não é apenas uma extensão de terra; é um legado familiar e um símbolo de resistência cultural.

 

 

Em 2007, o drama começou quando a Aracruz Celulose entrou em contato com o Senhor Bernardo, solicitando uma audiência no fórum local de Caravelas para supostamente discutir uma autorização de passagem para seus veículos. Sem entendimento pleno do que estava em jogo, o Senhor Bernardo, acompanhado apenas de seus bons modos e confiança no sistema, foi levado a colocar sua digital em um documento. Esse papel, que deveria significar meramente uma autorização passageira, se revelou mais tarde como um documento de doação de sua terra – um trecho de 100 hectares, essencialmente, seu teto secular.

 

Foi um choque quando soube que tinha 90 dias para desocupar a terra que era tudo que a família tinha. Segundo seu advogado, o Senhor Bernardo acreditou que estava simplesmente facilitando a logística da empresa, mas a verdade foi um contrato unilateral que selava a entrega total de seu patrimônio sem qualquer negociação financeira – um verdadeiro abuso de sua condição vulnerável.

 

 

As Consequências Avassaladoras:

A desocupação que seguiu foi, como seu advogado descreve, extremamente traumática. Não apenas de caráter simbólico, com a destruição de suas residências e fontes de água como cisternas, mas também em termos emocionais e psicológicos. A esposa do Senhor Bernardo não resistiu ao estresse que se seguiu à perda da casa e parte da fazenda, vindo a adoecer e falecer dois anos depois. A história é uma ferida aberta na vida de quem já lutou tanto para construir e manter seu lar.

 

Hoje, o senhor Bernardo vive em um assentamento improvisado em Rancho Alegre, sem direito de acessar ou utilizar sua terra. Enquanto isso, a fazenda foi ocupada e continua sendo ocupada pelo Movimento Sem Terra, destacando um paradoxo: a terra que lhe foi legitimamente herdada tem agora novos ocupantes sem qualquer relação com o autor do contrato ou compensações adequadas.

 

 

O Desafio Legal e a Busca por Justiça:

 

O combate na arena judicial se prolonga enquanto o caso ainda aguarda decisão na comarca de Caravelas. A esperança dos demandantes reside numa adjudicação justa que aponte para a má fé exercida durante todo o processo contra o Senhor Bernardo. Seu advogado, em entrevista ao radialista Edvaldo Alves, da Rádio Eldorado FM, aprofunda a complexidade da situação — Arcelor Mittal, outra empresa envolvida e adjacente à propriedade em questão, reconheceu em sua defesa o direito de posse do senhor Bernardo, adicionando mais um alicerce à sua reclamação.

 

 

O clamor por uma resposta eficaz e imparcial continua. São não apenas as vozes de Bernardo e seus defensores, mas o eco de inúmeras famílias que temem o mesmo destino. O advogado ressalta que vale lembrar que, em disputas semelhantes, a justiça nem sempre foi rápida, levantando suspeitas sobre desigualdades sistêmicas e a suposta celeridade que casos de empresas de grande porte parecem gozar.

 

“A batalha do Senhor Bernardo é um grito contra práticas predatórias e desumanas. Trata-se de um símbolo da resistência do pequeno produtor frente aos desafios impostos por um sistema que parece, muitas vezes, ignorar os direitos humanos em prol do lucro ilimitado. Aguardamos, esperançosos, que as dobras legais finalmente se desemaranhem em favor daqueles que há tanto já aguardam por Justiça”, disse o advogado.

 

 

Fonte: Edvaldo Alves/Liberdadenews